segunda-feira, 28 de junho de 2010

domingo, 27 de junho de 2010

We all fall in love sometimes - Jeff Buckley

Em qualquer lugar...

"Vou-te amar como Deus. Não, não. Deus não sente prazer nem movimento progressivo até ao prazer, coitado, é tão infeliz. Vou-te amar como um homem desde que os há, desde o tempo das cavernas até hoje e com um pequeno suplemento que é só meu."
Vergílio Ferreira, in "Em Nome da Terra"

quarta-feira, 23 de junho de 2010

O homem acabará por cumprir


Ontem, durante uma reflexão sobre o mundo de hoje, enquanto ia ouvindo opiniões e porque o espírito é bem mais livre que nós, por momentos, voltei dois ou três anos atrás, a uma reunião do Bloco e lembrei-me que tinha, então, começado a minha intervenção a falar nas Praças de Jorna da minha infância. Em tudo semelhantes às empresas de "extras", nome duro e imoral de falar de descartáveis. Dos à hora, às horas, ao dia, à jorna.
Estes anos depois, nos tais momentos de viagem, continuei a viagem à infância, mas parei um pouco mais acima, na rua do cemitério velho, mesmo em frente à casa onde o meu pai e mais 8 irmãos tinham nascido e reencontrei a Sopa dos Pobres.
À Sopa dos Pobres, iam os que os latifundiários não chamavam na manhã dos dias, nos dias em que homens e mulheres de tez tisnada, esperavam ansiosamente por serem os escolhidos e assim poderem ter dinheiro para comprar pão no final do dia.

No final da viagem que fiz ao Ribatejo pobre e rural do início dos anos 60, acordada dela por uma qualquer palavra dita em tom mais elevado, ainda tive tempo para concluir que ter sido levada há dois ou três anos à Praça de Jorna e hoje à Sopa dos Pobres, ao lugar onde se ia quando não havia trabalho à hora, às horas ou ao dia no campo dos donos das terras, pareceu-me a sequência lógica da evolução do mundo e do País no tempo que decorreu desde a tal reunião. Não somos já só descartáveis, somos cada vez mais descartáveis sem trabalho e sem pão. Recorremos às Sopas dos Pobres de hoje, envergonhados, grande parte das vezes, mas sem terras para cultivar à vista, a grande maioria delas.

Daquelas praças, iam-me chegando, menina ainda, relatos de revolta. Contra a injustiça e contra fome. Relatos de homens e mulheres que não se resignavam em ter que parar na casa de esquina em frente à casa dos meus avós, onde, após a guerra, como ainda tantas vezes o meu pai conta, se dividia uma sardinha por dois.

Antes de começar a intervenção de ontem, mesmo a voltar da viagem, ficou-me mais uma vez claro que nas Praças de Jorna de 2010, surgirá certamente a revolta. Que nenhum de nós se resignará com a Sopa do Pobres.

O homem nasceu para ser livre. E para ser digno. E se não desistiu durante séculos de lutar pela liberdade e pela dignidade é porque lhe está no sangue, nos genes. Pode demorar, mas o homem fará o seu papel. E a resistência e a revolta vencerão a desistência e a apatia. Pode demorar tempo mas o homem que nasceu para ser livre e ser digno fará um mundo sem Praças de Jorna nem Sopas dos Pobres.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

terça-feira, 15 de junho de 2010

Psicólogos precisam-se!!

"As empresas sabem compensar para que a economia não seja afectada, temo até mais que se a selecção nacional não tiver um bom resultado [no Mundial] que o impacto psicológico seja mais desfavorável", afirmou Vieira da Silva.


Eh pá, uma vez sem exemplo, estou com o Vieira da Silva. Eu cá também temo que os portugueses que ficaram e ficam diariamente sem emprego, e mais os precários dos call centers e das caixas dos supermercados e os outros precários todos, sem presente e sem futuro e mais os que não têm dinheiro para pagar a casa ao banco, e mais os que recebem salários de miséria, já para não falar nos que se tiveram que render às Sopas dos Pobres do Sec XXI e ainda os que encontro todos os dias a dormir nas arcadas desta cidade e ainda os que ainda ontem vi a procurar comida no lixo do Pingo Doce...se vão mesmo abaixo se Portugal não tiver um bom resultado no Mundial.

sábado, 12 de junho de 2010

terça-feira, 8 de junho de 2010

Igualzinhas à da casa velhota...

...e com imensas saudades de nós lá.

A nossa obrigação

Sobre a mascarada em si, já deixei um post. Esta nota é um convite para visitarem a caixa de comentários da notícia. É uma tarefa difícil para quem tem memória mas talvez seja uma tarefa imprescindível para quem não a quer perder.

Possivelmente são assim as caixas de comentários habituais do Sol. Confesso que não sou leitora habitual. Mas se esta gente existe, se estas caixas de comentários não são, apenas, uma brincadeira de mau gosto de meia dúzia de tristes solitários e ignorantes, há um trabalho enorme e colectivo a fazer. A minha geração foi a última que viveu o fascismo ainda a tempo de o ter sentido na pele. Cabe-nos a nós não deixar esquecer a tortura, a PIDE, a censura, o medo, a Guerra, a repressão, a formatação das mentalidades, o Tarrafal, Caxias...

Ao ler agora aquela caixa de comentários lembrei-me de quando foi a última vez que falei ao meu filho da angústia das partidas para a Guerra, do toque na porta que levou o avô, dos passos na noite, da fome, das lágrimas da avó e do meu medo. Não sei se não foi há demasiado tempo para que ele se lembre quando, um dia, tiver que passar a memória.

Muita daquela gente que por ali vai escrevendo, viveu esse tempo. Tem saudades dele. Mas, muito outros, vieram depois, falam do que lhes foi dito, mas, sobretudo, do que não lhes foi contado. E essa tarefa cabe-nos a nós. A de lhes contar. Não, apenas, como uma aula de história mas com os factos da vida. Da nossa vida. E somos, rapazes e raparigas de então, os últimos que o podemos fazer. Se não o fizermos a responsabilidade da amnésia colectiva também é nossa.

Não tenho a certeza se cá estarei quando os meus netos tiveram capacidade para entender o que foi a Mocidade Portuguesa. Estou cá agora e tenho obrigações para com eles.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Aberrações

Como é que explica "com dignidade e muito sentido de responsabilidade” o fascismo a crianças do jardim - escola?
Como é que, antes de vestir uma criança de três, quatro ou mesmo de seis ou sete anos, com a farda da Mocidade Portuguesa, se lhe explica o que foi a Mocidade Portuguesa, que valores defendia, quem servia, que regime personificava e representava? E quem lhe explica?
Quem tem filhos em idade pré-escolar e escolar e lhes perguntar o que foi a Mocidade Portuguesa, eles sabem? Aprenderam nas escolas primárias e pré-primárias? Ou só os 1200 meninos e meninas de Aveiro, porque lhes saiu na rifa terem que se mascarar com tal indumentária, tiveram esse assunto no seu programa escolar?
E como é que há professores e pais que alinham em fantochadas destas?

sábado, 5 de junho de 2010

Bom fim-de-semana!

Sobre a fé...

A fé sempre foi algo estranho para mim. Estranho de estrangeiro, de estar fora, e estranho de incompreensível. Quando vejo as multidões em Fátima, por exemplo, penso que será sempre algo de inatingível para mim o que leva aquelas pessoas a estarem ali.
Uma vez, alguém me disse que, nas alturas das grandes perdas, a fé deveria ser um aliado. Dei-lhe razão. E por isso mesmo, não a alcancei.

Quando era pequena e o meu pai vinha de bicicleta para casa, estávamos em França e ele tinha que atravessar uma Nationale qualquer. Recordo das tentativas que fazia de fazer promessas se ele chegasse bem. Se não acontecesse nada…mas, já na altura, nunca sabia a quem as fazer…o tempo que demorava a decidir era o tempo para ele chegar. Respirava aliviada. Ele estava bem e eu continuava sem saber se a minha incapacidade era falta de jeito ou falta de fé.

Anos mais tarde, ainda acreditei que se podia ter fé em Mundos. Em paraísos. Achava que o Homem podia ser o Deus da construção desses mundos e não rezava, mas acreditava. Duma forma total. Sem dúvidas. Como, creio, deve ser a verdadeira fé.
Depois, fui vendo as nossas imperfeições, as nossas desistências, que perdíamos sonhos e que sabíamos viver com essa perda, que éramos capazes de esconder a cabeça na areia e de trair e fiquei, de novo, órfã de fé. Ainda quero construir um mundo novo...mas sei que terá que ser com homens e não com deuses.

Também creio que passei algumas vezes por fases de quase fé no outro. Em outros. Amigos para sempre, amores para sempre. Não rezava, claro que não, ouvia a voz e via o olhar e era tão divino que só podia mesmo ser fé. Foi-se, aos poucos, perdendo o divino na amizade e no amor. A eternidade passou a ser o momento. Mesmo que ainda hoje, ou, sobretudo hoje, acredite cada vez mais que há momentos eternos. Foi uma dádiva para a paz (e para a amizade e o amor?), mas uma nova machadada na fé.
Quando o meu filho nasceu, a eternidade estava ali. Mas era (é) tão vivida, tão palpável, tão de pele e tão de cheiro, que nunca se poderia catalogar em qualquer cantinho esotérico. Era e é amor, entrega, esperança, fé não.

Não sei se me faz falta. Há seis meses quando perdi a minha mãe não fez. Encontrei a força para a dor nos lugares onde a encontro hoje para a saudade. Nos ombros, nas bengalas, nos barcos, nos braços, que me levavam, me levam aos lugares onde a vida voltava/voltou a acontecer.

Vejo aquelas pessoas que enchem Fátima ou que cruzo nos caminhos quando venho da terra e não entendo. Se o que procuram é felicidade. Ou é paz. Se o que sentem é medo. Ou é esperança. Se se preparam para suportar as perdas ou para se recuperarem delas.
Se procuram a vida eterna ou ajuda para suportar esta. Se abdicam de lutar por um Mundo melhor aqui, ou se para eles, o Mundo é melhor aqui, porque lá podem e sabem estar.

Ciclicamente ainda sinto aqueles laivos de quase fé. Ultimamente a minha vida encheu-se deles. Em que, por momentos, sinto que alguém ou alguma coisa torna tudo possível. O problema é que esse alguém ou essa alguma coisa tem rosto e tem contornos. Não pode ser fé, portanto. Convencionei chamar-lhes os meus momentos de quase tudo…e, sem medos, agora ouso incluir neles a felicidade. Só a fé continua, teimosamente, também destes, como de todos os outros momentos arredada. Há muita pele. Muito sabor. Muito cheiro. Muitas palavras e silêncios, para ela, neles caber. Se a fé fosse, apenas, a ausência de razão, ah aí sim, ainda tinha esperança. Perco muitas vezes a noção de razão quando sou feliz. Mas acho que a fé também é a ausência de olhar. Nada feito, portanto. Não devo nunca lá chegar.

terça-feira, 1 de junho de 2010