sexta-feira, 29 de abril de 2011

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Sun

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Nudez

Despiu o casaco e pendurou nas costas da cadeira. De seguida tirou os sapatos sem sequer se dobrar. Com um pé tirou o direito. Depois o outro.

Desabotoou a camisa docemente. Cuidadosamente, colocou-a nas costas da outra cadeira, no canto ao fundo do quarto. Tirou a saia. O fecho parecia querer prender-se-lhe à pele. Alisou-a, dobrou-a meticulosamente e colocou na cadeira da camisa. Sentou-se na ponta da cama e tirou as meias.

A seguir tirou o resto. Estava nua.

Não, ainda não era o resto. Não estava.

Olhou o espelho longamente e decidiu-se. Nem que fosse a última vez, fá-lo-ia. Pegou-lhe por uma ponta. Saiu intacto. Cansado, já algo enrugado, mas intacto.

Pendurou-o no cabide por detràs da porta de entrada. Ficaria ali. Nem que fosse pela última vez, ficaria ali.

Finalmente, nua, olhou a alma de frente. E aí deu-se. Está assim desde o 1º dia.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

25 de Abril

domingo, 24 de abril de 2011


Creio nos anjos que andam pelo mundo,

Creio na deusa com olhos de diamantes,

Creio em amores lunares com piano ao fundo,

Creio nas lendas, nas fadas, nos atlantes,

Creio num engenho que falta mais fecundo

De harmonizar as partes dissonantes,

Creio que tudo é eterno num segundo,

Creio num céu futuro que houve dantes,

Creio nos deuses de um astral mais puro,

Na flor humilde que se encosta ao muro,

Creio na carne que enfeitiça o além,

Creio no incrível, nas coisas assombrosas,

Na ocupação do mundo pelas rosas,

Creio que o amor tem asas de ouro. Ámen.

Natália Correia, Sonetos Românticos, 1990

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Se nos roubarem Abril, dar-vos-emos Maio!


Somos cidadãos e cidadãs nascidos depois do 25 de Abril de 1974. Crescemos com a consciência de que as conquistas democráticas e os mais básicos direitos de cidadania são filhos directos desse momento histórico. Soubemos resistir ao derrotismo cínico, mesmo quando os factos pareciam querer lutar contra nós: quando o então primeiro-ministro Cavaco Silva recusava uma pensão ao capitão de Abril, Salgueiro Maia, e a concedia a torturadores da PIDE/DGS; quando um governo decidia comemorar Abril como uma «evolução», colocando o «r» no caixote de lixo da História; quando víamos figuras políticas e militares tomar a revolução do 25 de Abril como um património seu. Soubemos permanecer alinhados com a sabedoria da esperança, porque sem ela a democracia não tem alma nem futuro.

O momento crítico que o país atravessa tem vindo a ser aproveitado para promover uma erosão preocupante da herança material e simbólica construída em torno do 25 de Abril. Não o afirmamos por saudosismo bacoco ou por populismo de circunstância. Se não é de agora o ataque a algumas conquistas que fizeram de nós um país mais justo, mais livre e menos desigual, a ofensiva que se prepara – com a cobertura do Fundo Monetário Internacional e a acção diligente do «grande centro» ideológico – pode significar um retrocesso sério, inédito e porventura irreversível. Entendemos, por isso, que é altura de erguermos a nossa voz. Amanhã pode ser tarde.

O primeiro eixo dessa ofensiva ocorre no campo do trabalho. A regressão dos direitos laborais tem caminhado a par com uma crescente precarização que invade todos os planos da vida: o emprego e o rendimento são incertos, tal como incerto se torna o local onde se reside, a possibilidade de constituir família, o futuro profissional. Como o sabem todos aqueles e aquelas que experienciam esta situação, a precariedade não rima com liberdade. Esta só existe se estiverem garantidas perspectivas mínimas de segurança laboral, um rendimento adequado, habitação condigna e a possibilidade de se acederem a dispositivos culturais e educativos. O desemprego, os falsos recibos verdes, o uso continuado e abusivo de contratos a prazo e as empresas de trabalho temporário são hoje as faces deste tempo em que o trabalho sem direitos se tornou a norma. Recentes declarações de agentes políticos e económicos já mostraram que a redução dos direitos e a retracção salarial é a rota pretendida.Em sentido inverso, estamos dispostos a lutar por um novo pacto social que trave este regresso a vínculos laborais típicos do século XIX.

O segundo eixo dessa ofensiva centra-se no enfraquecimento e desmantelamento do Estado social. A saúde e a educação são as duas grandes fatias do bolo público que o apetite privado busca capturar e algum caminho, ainda que na penumbra, tem sido trilhado. Sabemos que não há igualdade de oportunidades sem uma rede pública estruturada e acessível de saúde e educação, e estamos convencidos de que não há democracia sem igualdade de oportunidades. Preocupa-nos, por isso, o desinvestimento no SNS, a inexistência de uma rede de creches acessível, os problemas que enfrenta a escola pública e as desistências de frequência do ensino superior por motivos económicos. Num país com fortes bolsas de pobreza e com endémicas desigualdades, corroer direitos sociais constitucionalmente consagrados é perverter a nossa coluna vertebral democrática, e o caldo perfeito para o populismo xenófobo. Com isso, não podemos pactuar. No nosso ponto de vista,esta é a linha de fronteira que separa uma sociedade preocupada com o equilíbrio e a justiça e uma sociedade baseada numa diferença substantiva entre as elites e a restante população.

Por fim, o terceiro e mais inquietante eixo desta ofensiva anti-Abril assenta naimposição de uma ideia de inevitabilidade que transforma a política mais numa ratificação de escolhas já feitas do que numa disputa real em torno de projectos diferenciados. Este discurso ganhou terreno nos últimos tempos, acentuou-se bastante nas últimas semanas e tenderá a piorar com a transformação do país num protectorado do FMI. Um novo vocabulário instala-se, transformando em «credores» aqueles que lucram com a dívida, em «resgate financeiro» a imposição ainda mais acentuada de políticas de austeridade e em «consenso alargado» a vontade de ditar a priori as soluções governativas. Esta maquilhagem da língua ocupa de tal forma o terreno mediático que a própria capacidade de pensar e enunciar alternativas se encontra ofuscada.

Por isso dizemos: queremos contribuir para melhorar o país, mas recusamos ser parte de uma engrenagem de destruição de direitos e de erosão da esperança. Se nos roubarem Abril, dar-vos-emos Maio!

Subscrevem o manifesto do/as 74 por 74
Alexandre de Sousa Carvalho – relações internacionais, investigador; Alexandre Isaac – antropólogo, dirigente associativo; Alfredo Campos – sociólogo, bolseiro de investigação; Ana Fernandes Ngom – animadora sociocultural; André Avelãs – artista; André Rosado Janeco – bolseiro de doutoramento; António Cambreiro – estudante; Artur Moniz Carreiro – desempregado; Bruno Cabral – realizador; Bruno Rocha – administrativo; Bruno Sena Martins – antropólogo; Carla Silva – médica, sindicalista; Catarina F. Rocha – estudante; Catarina Fernandes – animadora sociocultural, estagiária; Catarina Guerreiro – estudante; Catarina Lobo – estudante; Celina da Piedade – música; Chullage - sociólogo, músico; Cláudia Diogo – livreira; Cláudia Fernandes – desempregada; Cristina Andrade – psicóloga; Daniel Sousa – guitarrista, professor; Duarte Nuno - analista de sistemas; Ester Cortegano – tradutora; Fernando Ramalho – músico; Francisca Bagulho – produtora cultural; Francisco Costa – linguista; Gui Castro Felga – arquitecta; Helena Romão – música, musicóloga; Joana Albuquerque – estudante; Joana Ferreira – lojista; João Labrincha – relações internacionais, desempregado; Joana Manuel – actriz; João Pacheco – jornalista; João Ricardo Vasconcelos – politólogo, gestor de projectos; João Rodrigues – economista; José Luís Peixoto – escritor; José Neves – historiador, professor universitário; José Reis Santos – historiador; Lídia Fernandes – desempregada; Lúcia Marques – curadora, crítica de arte; Luís Bernardo – estudante de doutoramento; Maria Veloso – técnica administrativa; Mariana Avelãs – tradutora; Mariana Canotilho – assistente universitária; Mariana Vieira – estudante de doutoramento; Marta Lança – jornalista, editora; Marta Rebelo – jurista, assistente universitária; Miguel Cardina – historiador; Miguel Simplício David – engenheiro civil; Nuno Duarte (Jel) – artista; Nuno Leal – estudante; Nuno Teles – economista; Paula Carvalho – aprendiz de costureira; Paula Gil – relações internacionais, estagiária; Pedro Miguel Santos – jornalista; Ricardo Araújo Pereira – humorista; Ricardo Lopes Lindim Ramos – engenheiro civil; Ricardo Noronha – historiador; Ricardo Sequeiros Coelho – bolseiro de investigação; Rita Correia – artesã; Rita Silva – animadora; Salomé Coelho – investigadora em Estudos Feministas, dirigente associativa; Sara Figueiredo Costa – jornalista; Sara Vidal – música; Sérgio Castro – engenheiro informático; Sérgio Pereira – militar; Tiago Augusto Baptista – médico, sindicalista; Tiago Brandão Rodrigues – bioquímico; Tiago Gillot – engenheiro agrónomo, encarregado de armazém; Tiago Ivo Cruz – programador cultural; Tiago Mota Saraiva – arquitecto; Tiago Ribeiro – sociólogo; Úrsula Martins – estudante.

Sobre a VII Convenção do Bloco de Esquerda

Quando abandonei a Mesa Nacional do Bloco de Esquerda, deixei clara a minha decisão de não participar na Convenção. Disse então que aguardaria a sua realização, com a esperança já muito longe de intacta, mas ainda suficiente, de que nela se pudesse arrepiar caminho. E recomeçar de novo.

Na altura, ainda não tinha havido Moção de Censura, ainda não tinha caído o Governo, anda não havia listas de deputados, ainda a Direcção do Bloco (e a do PCP, mas não sou militante do PCP, e vivo bem melhor com os seus erros e as suas hipocrisias), não tinha fingido que queria criar uma alternativa de Esquerda, efectiva, real, mobilizadora, empenhada, verdadeira e, sobretudo, viável, ao Governo do FMI.

Na altura ainda a Convenção do Bloco de Esquerda me surgia como a hipótese de se discutirem caminhos e não como um comício de abertura de campanha. E, apesar de ter decidido não estar presente, continuava, nem sequer secretamente, com a esperança de ter tomado a decisão errada.

Hoje, a duas semanas da Convenção, com listas de deputados (conheci ontem na integra a de Lisboa!) e opções políticas consumadas e decididas, com fantasmas internos oficializados, decidi que nem sequer como eleitora colaborarei na próxima Convenção. Não só não subscrevo nenhuma Moção, como estou hoje mais convencida que nunca, que é um erro participar em comícios e em entronizações que se “vendem”, a militantes e a eleitores, como se fossem espaços de discussão e de tomadas de decisão.

Ainda espero estar enganada...mas não vou ser hipócrita e dizer que espero que a Convenção “corra bem”. Porque estou absolutamente convencida que uma Convenção do Bloco “correr bem” nestas circunstâncias e neste tempo, significará que o “síndroma da mesa nacional”, o já tudo ter e estar decidido e apenas se ter que votar e ratificar, a atingiu mortalmente.

Fazer do último espaço de discussão e de tomadas de decisão democráticas ( apesar de cada ano que foi passando regimentos e regulamentos terem tornado cada vez menos democráticas...), um comício de campanha será mais um, talvez decisivo, passo para o abismo. E que fique claro que, para mim, o abismo nada tem a ver com os resultados eleitorais do Bloco em 5 de Junho.

Tem tudo a ver com a alternativa que não se fez, nem se foi. Alternativa nem sequer, essencialmente, eleitoral. E que a Convenção não vai, estou amargamente convencida, contrariar.

Impossível é não viver


"Se te quiserem convencer que é impossível, diz-lhes que impossível é ficares calado, impossível é não teres voz. Temos direito a viver. Acreditamos nessa certeza com todas as forças do nosso corpo e, mais ainda, com todas as forças da nossa vontade. Viver é um verbo enorme, longo. Acreditamos em todo o seu tamanho, não prescindimos de um único passo do seu/nosso caminho.

Sabemos bem que é inútil resmungar contra o ecrã do telejornal. O vidro não responde. Por isso, temos outros planos. Temos voz, tantas vozes; temos rosto, tantos rostos. As ruas hão-de receber-nos, serão pequenas para nós. Sabemos formar marés, correntes. Sabemos também que nunca nos foi oferecido nada. Cada conquista foi ganha milímetro a milímetro. Antes de estar à vista de toda a gente, prática e concreta, era sempre impossível, mas viver é acreditar. Temos direito à esperança. Esta vida pertence-nos.

Além disso, é magnífico estragar a festa aos poderosos. É divertido, saudável, faz bem à pele. Quando eles pensam que já nos distribuíram um lugar, que já está tudo decidido, que nos compraram com falinhas mansas e autocolantes, mostramos-lhes que sabemos gritar. Envergonhamo-los como as crianças de cinco anos envergonham os pais na fila do supermercado. Com a diferença grande de não sermos crianças de cinco anos e com a diferença imensa de eles não serem nossos pais porque os nossos pais, há quase quatro décadas atrás, tiveram de livrar-se dos pais deles. Ou, pelo menos, tentaram.

O único impossível é o que julgarmos que não somos capazes de construir. Temos mãos e um número sem fim de habilidades que podemos fazer com elas. Nenhum desses truques é deixá-las cair ao longo do corpo, guardá-las nos bolsos, estendê-las à caridade. Por isso, não vamos pedir, vamos exigir. Havemos de repetir as vezes que forem necessárias: temos direito a viver. Nunca duvidámos de que somos muito maiores do que o nosso currículo, o nosso tempo não é um contrato a prazo, não há recibos verdes capazes de contabilizar aquilo que valemos.

Vida, se nos estás a ouvir, sabe que caminhamos na tua direcção. A nossa liberdade cresce ao acreditarmos e nós crescemos com ela e tu, vida, cresces também. Se te quiserem convencer, vida, de que é impossível, diz-lhe que vamos todos em teu resgate, faremos o que for preciso e diz-lhes que impossível é negarem-te, camuflarem-te com números, diz-lhes que impossível é não teres voz."
José Luís Peixoto

sábado, 16 de abril de 2011

Os canalhas têm todos a mesma cara, mesmo quando escondem a cara

Sei o que custam os linchamentos, ou tentativas de linchamento. Pessoais e políticos. Sei o que custa ser vitima de anónimos, mesmo quando para nós, o não são. Sei onde bate e onde dói. E sei que a cobardia não nos derruba, mas que deixa rasto.
Sem querer, levo-me já ali atrás, a questões pessoais e políticas que passaram por isto: pela canalhice mais pura e dura.
Sejam quais forem os objectivos os canalhas têm todos a mesma cara. E os mesmos métodos. Mesmo que teimem em não mostrar a cara. Um dia escrevi a um que até se pode conseguir alcançar alguma coisa com a canalhice, mas é efémero. E acaba por se virar, mais dia menos dia, contra quem a pratica.
Ao lixo de quem obteve a foto, junta-se o lixo de quem a publicou e o lixo dos comentários que por aí proliferam.

O Miguel vai continuar ele, tenho a certeza. Não somos daqueles que se deixam vergar perante a canalhice.
Às vezes, por questões de ética ou para não magoar terceiros, acabamos por não chamar os canalhas pelos nomes...cada vez me questiono mais de é uma boa prática.

sábado, 9 de abril de 2011

quinta-feira, 7 de abril de 2011

O dia a seguir


Se pensarmos todos bem alto que hoje acordamos num País ainda menos livre e menos justo, talvez acordemos hoje ainda mais decididos a lutar pela liberdade e pela justiça.

Não pode ser o 1º dia de resistência, esses têm sido todos desde 25 de Novembro de 1975.

Temos que fazer dele mais um dia de luta, com a certeza que ou a luta tem consequências imediatas ou o sonho não concretizado de liberdade e justiça vai definitivamente morrer na areia deserta da nossa impotência.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

segunda-feira, 4 de abril de 2011

TENTEM!!

Não me perguntem se acredito, que não sei se acredito. Não me perguntem se é possível que não sei se é possível. Não me lembrem as diferenças que não as esqueço, nem creio que sejam para esquecer. Não ma falem da história, que a conheço, porque a vivi. Falem-me do presente que temos e do futuro que não temos e venha o primeiro tentar convencer-me que não temos a obrigação de tentar. E de lhes exigir que tentem.

Alternativa!! não reistência

O que queremos é discutir uma alternativa hoje. O que nós queremos é impedir a vitória da Direita e a continuação da aplicação das suas políticas. O que nós queremos é uma Esquerda que compareça para criar alternativas e não que prometa reisitir. Mesmo que prometa fazê-lo em conjunto. Que a Esquerda resiste, já todos sabemos. Fê-lo todos estes anos. Grande parte das vezes em conjunto. E nós com ela. Que isso não chega, também. Vimo-lo todos estes anos. Sentimo-lo, mais que nunca, hoje. Prometer convergências para depois da Direita vencer as eleições, mais do que não fazer sentido, é não honrar nem principios nem compromissos. O compromisso de falar verdade, nomeadamente. Porque todos sabemos que com 20% dos votos e 30 deputados na AR não se formam Governos.