Quando entrei no autocarro que me levava ao Liceu de Santarém e ouvi o Zeca, manhãzinha cedo, daquele dia de Abril, e entendi que aquela era a manhã, soube que hoje estaria na rua. Quando corri ruas, campos, de bandeiras de luta e de esperança defraudadas com o mundo numa mão e a vida para fazer na outra, soube que hoje estaria na rua.
Quando decidi que o meu filho nasceria e que ia lutar por lhe dar dignidade, soube que hoje estaria na rua.
Sempre que luto na empresa, na rua, em casa e na vida, pelo pão, pelo trabalho, pela dignidade, pela justiça, pela liberdade, sei que hoje estaria na rua.
Quando conto os tostões para os livros, para o pão, para as propinas, para a casa, e os tostões não chegam, sei que hoje estaria na rua.
Quando não sei o caminho, quando digo não, quando amo, quando rio, quando choro por não saber o caminho, quando hesito, quando vacilo, sei que hoje estaria na rua. Quando me tiram um direito e eu reclamo. Quando vejo fome e me indigno. Quando os meus amigos querem trabalho e eu me inquieto e me revolto, sei que hoje estaria na rua.
Quando me falta a força, sei que hoje estaremos na rua. E vou!