sexta-feira, 22 de abril de 2011

Sobre a VII Convenção do Bloco de Esquerda

Quando abandonei a Mesa Nacional do Bloco de Esquerda, deixei clara a minha decisão de não participar na Convenção. Disse então que aguardaria a sua realização, com a esperança já muito longe de intacta, mas ainda suficiente, de que nela se pudesse arrepiar caminho. E recomeçar de novo.

Na altura, ainda não tinha havido Moção de Censura, ainda não tinha caído o Governo, anda não havia listas de deputados, ainda a Direcção do Bloco (e a do PCP, mas não sou militante do PCP, e vivo bem melhor com os seus erros e as suas hipocrisias), não tinha fingido que queria criar uma alternativa de Esquerda, efectiva, real, mobilizadora, empenhada, verdadeira e, sobretudo, viável, ao Governo do FMI.

Na altura ainda a Convenção do Bloco de Esquerda me surgia como a hipótese de se discutirem caminhos e não como um comício de abertura de campanha. E, apesar de ter decidido não estar presente, continuava, nem sequer secretamente, com a esperança de ter tomado a decisão errada.

Hoje, a duas semanas da Convenção, com listas de deputados (conheci ontem na integra a de Lisboa!) e opções políticas consumadas e decididas, com fantasmas internos oficializados, decidi que nem sequer como eleitora colaborarei na próxima Convenção. Não só não subscrevo nenhuma Moção, como estou hoje mais convencida que nunca, que é um erro participar em comícios e em entronizações que se “vendem”, a militantes e a eleitores, como se fossem espaços de discussão e de tomadas de decisão.

Ainda espero estar enganada...mas não vou ser hipócrita e dizer que espero que a Convenção “corra bem”. Porque estou absolutamente convencida que uma Convenção do Bloco “correr bem” nestas circunstâncias e neste tempo, significará que o “síndroma da mesa nacional”, o já tudo ter e estar decidido e apenas se ter que votar e ratificar, a atingiu mortalmente.

Fazer do último espaço de discussão e de tomadas de decisão democráticas ( apesar de cada ano que foi passando regimentos e regulamentos terem tornado cada vez menos democráticas...), um comício de campanha será mais um, talvez decisivo, passo para o abismo. E que fique claro que, para mim, o abismo nada tem a ver com os resultados eleitorais do Bloco em 5 de Junho.

Tem tudo a ver com a alternativa que não se fez, nem se foi. Alternativa nem sequer, essencialmente, eleitoral. E que a Convenção não vai, estou amargamente convencida, contrariar.