domingo, 31 de julho de 2011

Da fé

Que me lembre só há cinco coisas pelas quais luto desde que me lembro de mim: pela justiça, pela liberdade, pela dignidade, pela amizade e pelo amor.
Apesar de recuos, contratempos, desvios, quedas, erros crassos, faltas de força, equívocos, atitudes de que me penitencio, porque não confessá-lo de que me envergonho, lado a lado com outras de que me orgulho, nunca até hoje desisti de nenhuma dessa lutas.
De nenhuma. Assim sendo, on the road again. Como se dizia dantes, nos tempos das lutas pelos amanhãs que cantavam logo no dia a seguir, a vitória é difícil mas é nossa. Neste caso, a vitória é difícil, porque se cai algumas vezes em lugares obscuros da nossa alma, que nem desconfiávamos que existiam, mas nossa, porque não desistimos de nos levantar.
Ainda cambaleante, mas de pé. A luta destes dias mais próximos é pela justiça, pela dignidade e pelo amor.
E eu, ateia, convicta, tenho fé que as vá vencer. Um dia destes haverá de novo a nossa estrela da tarde.

sábado, 30 de julho de 2011

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Ètre...to be...ser....estar...

Cresci num tempo em que algumas palavras "auto-proibidas", se sucederam a muitas que o fascismo proibia.

Não se dizia "amo-te" porque isso implicava uns compromissos do caraças...a gente dizia amo-te e era como se estivesse a fazer promessas eternas e fazer promessas eternas era reaccionário comó caraças...a revolução estava na ordem do dia e a gente amava os amanhãs que cantavam, os princípios inquestionáveis, a Revolução, tivesse ela o nome que tivesse, dependendo dos senhores de barbas ou de bigodes ou de sinalzinho que a gente...amasse...e era tudo. Também não se dizia que éramos felizes. Nunca! Ai sou tão feliz...era logo seguido de um discurso (auto-discurso, antes de qualquer outro) empolgado sobre a luta de classes, a exploração, as perseguições. Levava~se com uma etiqueta de egoísta (que militantemente ajudávamos a pressionar para ficar bem colada!) , qual quê, de reformista ou quiçá contra-revolucionária e já está.

Até há muito pouco tempo, não conseguia dizer amo-te (aliás, confesso, acho que ainda hoje, sei lá se me recordando ainda de bigodes retorcidos ou sinais mal encarados na cara), só consigo...escrever. Mas, pronto, já sai.

Sou feliz, não. Continua a ser uma impossibilidade. Acabei, no entanto, por trocar as voltas aos amanhãs que, receio bem, têm muito pouco de rouxinol. Para vencer bigodes, barbichas e sinais, tornei-me poliglota e recordei que franceses e ingleses têm o mesmo verbo para ser e estar. Je suis heureuse ou I'm happy, resolve a questão. E não me sinto muito a fazer o jogo da reacção...:))

E, neste momento, suis e am.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

E por ser mulher?

Nunca fui feminista na vida. Sempre lutei por direitos iguais e contra todas as descriminações. obviamente que as de sexo, incluídas. Quando Assunção Esteves foi eleita presidente da AR, não consegui evitar um sorriso algo "sacaninha", perante os clamores de vitória e de alegria de muitas companheiras de Esquerda. Porque os achei, antes de mais, ingénuos. Uma mulher em qualquer lugar pode ser tão boa ou tão má como um homem. O contrário desta premissa, é sempre, no meu modesto entender, profundamente conservador ou atrozmente ingénuo. E a ideologia existe.

As alterações mais danosas dos interesses dos trabalhadores que a revisão da Legislação laboral vai contemplar, vão ser feitas, à revelia da Constituição, sob o consentimento criminoso de um presidente da AR eleito pela Direita...com a alegria da Esquerda.

É-me absolutamente indiferente ter à frente da AR um homem ou uma mulher. Desde que cumpram a Constituição. Lutarei contra quem não a cumpre. Nunca me lembro do sexo nestas ocasiões. Mais uma vez, e desculpem-me a imodéstia acho que o silêncio foi a escolha certa.

A eleição de Assunção Esteves não constituiu nenhuma vitória para a Esquerda nem para as mulheres. A Direita achou que era a pessoa indicada para fazer esquecer o circo da tentativa de eleição de Fernando Nobre, exactamente por ser mulher. E muita Esquerda embandeirou em arco. As mulheres, as mulheres trabalhadoras, desempregadas, precárias, as mais discriminadas de todos os discriminados, ficaram a ganhar o quê com a sua eleição?

Acabo sempre por chegar à conclusão que a Esquerda está a passar um período de uma enorme falta de consistência ideológica mas, sobretudo, de falta de auto-estima: contenta-se com muito pouco, cada dia se contenta com menos.

domingo, 17 de julho de 2011

quinta-feira, 14 de julho de 2011

segunda-feira, 11 de julho de 2011

domingo, 10 de julho de 2011

sábado, 9 de julho de 2011

Sobre as correntes antigas e a proposta da corrente nova, dentro do Bloco


Participei no Encontro desta tarde do Manifesto em que um dos temas em discussão foi a "descorrentização" dentro do Bloco. Considero importante, até porque pioneira dentro da maioria, a opinião manifestado pelos meus camaradas do Manifesto, no documento que serviu de base a este encontro ( que se pode ler aqui).
Reitero a opinião que lá deixei, aqui escrita, pois nem sempre a oralidade, sobretudo se de imprevisto, é aliada: acredito que a riqueza do BE pode ser construída a partir da existência de correntes/tendências internas. Creio que o problema do BE nunca foi a existência de tendências (só existe uma "legalizada" - a Esquerda Nova e recordo que a corrente onde então eu militava a Luta Socialista, nunca se tornou tendência por discordar do regulamento do Direito de Tendência, aprovado maioritariamente em Mesa Nacional).

O problema do BE no que diz respeito a correntes, nunca foram, pois, as suas tendências nem a livre discussão entre elas, o problema é que durante anos se fingiu que elas não existiam no seio da maioria (o documento do Manifesto hoje em discussão é, que me lembre, o primeiro documento vindo do seio da maioria, onde se assume a sua existência organizada e o seu papel na tomada de decisões dentro do Bloco) e se deixou que se transformassem em sociedades secretas, quando havia que tomar decisões, capelinhas quando se estava em tempo de reflexão, com rituais de iniciação, deuses eleitos ou por inerência, padres e sacristães, concílios e fiéis, e mercearias quando havia que dividir lugares para formar listas, sobretudo, para as Legislativas, que para as Autárquicas, tinha que se contar com todos, infiéis ou ateus, incluídos. Olhando com desconfiança e desdém qualquer ateu, agnóstico ou supostamente fiel doutra capela, isto é, qualquer militante de qualquer minoria. E, tal como qualquer sociedade secreta que se preze, decidiam e dividiam entre si, políticas, responsabilidades e cargos. Para as tarefas, tal como para as eleições autárquicas, também se contava com os infiéis. Mas só enquanto não questionavam demasiado.

Há agora, descobri há alguns dias e confirmei hoje, uma proposta de alguns dirigentes dessas tendências da maioria – da UDP e do PSR, que nunca foram tendência, mas que sempre todos soubemos dentro do BE que agiam como tal, de fazer uma única corrente, grande, abrangente, maioritária. Isto é tenta-se passar de capela a Igreja, mantendo o resto intacto. Mantendo-se intacto, sobretudo o objectivo final: afastar infiéis e ateus.

A ir avante esta proposta (e ficou claro que não é essa a posição do Manifesto, no que tem o meu total apoio), qualquer aderente que entrasse no BE, que não fizesse ideia qual a doutrina de cada uma das capelinhas, que pensasse estar a entrar “apenas” no Bloco, e que não tivesse vontade ou disponibilidade para os rituais de iniciação, teria agora à sua frente uma Igreja. Pelo que conheço do BE, os ateus talvez ainda parassem uns minutos a olhar para a fachada da Igreja, que não somos imunes à monumentalidade que a fachada de uma igreja sempre representa, mas, dariam na mesma meia volta e iriam para casa, como têm ido até agora, que isto de ser de Esquerda, queira-se ou não, é cada vez feito com menos fé e mais opinião.
Continuando numa linguagem algo religiosa, creio que diriam "para este peditório eu já dei" e continuariam a mostrar-se tão descrentes como se têm mostrado grande parte (a maioria?) dos novos aderentes em relação às capelas.

Questiono-me , enfim, quem objectivamente a maioria da maioria quer afastar da maioria, com a criação de tal corrente. Para afastar as minorias do poder de decisão , não é necessária, nunca o tiveram.. Para afastar os “independentes” tampouco, também nunca o tiveram.

Então quem?

sexta-feira, 8 de julho de 2011

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Maria José Nogueira Pinto - 1952-2011

Se me recordar das vezes que ao longo dos anos, discordei dela, a critiquei, contestei o que defendia, a acusei de estar do "outro lado da barricada", a ouvi manifestar as suas convicções com determinação, nelas não me revendo, mas mesmo assim ouvindo, só posso reconhecer que lutou sempre pelo que acreditava. O facto de o que acreditava estar nos antípodas do que eu acredito não retira uma virgula ao seu valor como lutadora. Que descanse em paz.