sábado, 9 de julho de 2011

Sobre as correntes antigas e a proposta da corrente nova, dentro do Bloco


Participei no Encontro desta tarde do Manifesto em que um dos temas em discussão foi a "descorrentização" dentro do Bloco. Considero importante, até porque pioneira dentro da maioria, a opinião manifestado pelos meus camaradas do Manifesto, no documento que serviu de base a este encontro ( que se pode ler aqui).
Reitero a opinião que lá deixei, aqui escrita, pois nem sempre a oralidade, sobretudo se de imprevisto, é aliada: acredito que a riqueza do BE pode ser construída a partir da existência de correntes/tendências internas. Creio que o problema do BE nunca foi a existência de tendências (só existe uma "legalizada" - a Esquerda Nova e recordo que a corrente onde então eu militava a Luta Socialista, nunca se tornou tendência por discordar do regulamento do Direito de Tendência, aprovado maioritariamente em Mesa Nacional).

O problema do BE no que diz respeito a correntes, nunca foram, pois, as suas tendências nem a livre discussão entre elas, o problema é que durante anos se fingiu que elas não existiam no seio da maioria (o documento do Manifesto hoje em discussão é, que me lembre, o primeiro documento vindo do seio da maioria, onde se assume a sua existência organizada e o seu papel na tomada de decisões dentro do Bloco) e se deixou que se transformassem em sociedades secretas, quando havia que tomar decisões, capelinhas quando se estava em tempo de reflexão, com rituais de iniciação, deuses eleitos ou por inerência, padres e sacristães, concílios e fiéis, e mercearias quando havia que dividir lugares para formar listas, sobretudo, para as Legislativas, que para as Autárquicas, tinha que se contar com todos, infiéis ou ateus, incluídos. Olhando com desconfiança e desdém qualquer ateu, agnóstico ou supostamente fiel doutra capela, isto é, qualquer militante de qualquer minoria. E, tal como qualquer sociedade secreta que se preze, decidiam e dividiam entre si, políticas, responsabilidades e cargos. Para as tarefas, tal como para as eleições autárquicas, também se contava com os infiéis. Mas só enquanto não questionavam demasiado.

Há agora, descobri há alguns dias e confirmei hoje, uma proposta de alguns dirigentes dessas tendências da maioria – da UDP e do PSR, que nunca foram tendência, mas que sempre todos soubemos dentro do BE que agiam como tal, de fazer uma única corrente, grande, abrangente, maioritária. Isto é tenta-se passar de capela a Igreja, mantendo o resto intacto. Mantendo-se intacto, sobretudo o objectivo final: afastar infiéis e ateus.

A ir avante esta proposta (e ficou claro que não é essa a posição do Manifesto, no que tem o meu total apoio), qualquer aderente que entrasse no BE, que não fizesse ideia qual a doutrina de cada uma das capelinhas, que pensasse estar a entrar “apenas” no Bloco, e que não tivesse vontade ou disponibilidade para os rituais de iniciação, teria agora à sua frente uma Igreja. Pelo que conheço do BE, os ateus talvez ainda parassem uns minutos a olhar para a fachada da Igreja, que não somos imunes à monumentalidade que a fachada de uma igreja sempre representa, mas, dariam na mesma meia volta e iriam para casa, como têm ido até agora, que isto de ser de Esquerda, queira-se ou não, é cada vez feito com menos fé e mais opinião.
Continuando numa linguagem algo religiosa, creio que diriam "para este peditório eu já dei" e continuariam a mostrar-se tão descrentes como se têm mostrado grande parte (a maioria?) dos novos aderentes em relação às capelas.

Questiono-me , enfim, quem objectivamente a maioria da maioria quer afastar da maioria, com a criação de tal corrente. Para afastar as minorias do poder de decisão , não é necessária, nunca o tiveram.. Para afastar os “independentes” tampouco, também nunca o tiveram.

Então quem?