Ontem, durante uma reflexão sobre o mundo de hoje, enquanto ia ouvindo opiniões e porque o espírito é bem mais livre que nós, por momentos, voltei dois ou três anos atrás, a uma reunião do Bloco e lembrei-me que tinha, então, começado a minha intervenção a falar nas Praças de Jorna da minha infância. Em tudo semelhantes às empresas de "extras", nome duro e imoral de falar de descartáveis. Dos à hora, às horas, ao dia, à jorna.
Estes anos depois, nos tais momentos de viagem, continuei a viagem à infância, mas parei um pouco mais acima, na rua do cemitério velho, mesmo em frente à casa onde o meu pai e mais 8 irmãos tinham nascido e reencontrei a Sopa dos Pobres.
À Sopa dos Pobres, iam os que os latifundiários não chamavam na manhã dos dias, nos dias em que homens e mulheres de tez tisnada, esperavam ansiosamente por serem os escolhidos e assim poderem ter dinheiro para comprar pão no final do dia.
No final da viagem que fiz ao Ribatejo pobre e rural do início dos anos 60, acordada dela por uma qualquer palavra dita em tom mais elevado, ainda tive tempo para concluir que ter sido levada há dois ou três anos à Praça de Jorna e hoje à Sopa dos Pobres, ao lugar onde se ia quando não havia trabalho à hora, às horas ou ao dia no campo dos donos das terras, pareceu-me a sequência lógica da evolução do mundo e do País no tempo que decorreu desde a tal reunião. Não somos já só descartáveis, somos cada vez mais descartáveis sem trabalho e sem pão. Recorremos às Sopas dos Pobres de hoje, envergonhados, grande parte das vezes, mas sem terras para cultivar à vista, a grande maioria delas.
Daquelas praças, iam-me chegando, menina ainda, relatos de revolta. Contra a injustiça e contra fome. Relatos de homens e mulheres que não se resignavam em ter que parar na casa de esquina em frente à casa dos meus avós, onde, após a guerra, como ainda tantas vezes o meu pai conta, se dividia uma sardinha por dois.
Antes de começar a intervenção de ontem, mesmo a voltar da viagem, ficou-me mais uma vez claro que nas Praças de Jorna de 2010, surgirá certamente a revolta. Que nenhum de nós se resignará com a Sopa do Pobres.
O homem nasceu para ser livre. E para ser digno. E se não desistiu durante séculos de lutar pela liberdade e pela dignidade é porque lhe está no sangue, nos genes. Pode demorar, mas o homem fará o seu papel. E a resistência e a revolta vencerão a desistência e a apatia. Pode demorar tempo mas o homem que nasceu para ser livre e ser digno fará um mundo sem Praças de Jorna nem Sopas dos Pobres.
Estes anos depois, nos tais momentos de viagem, continuei a viagem à infância, mas parei um pouco mais acima, na rua do cemitério velho, mesmo em frente à casa onde o meu pai e mais 8 irmãos tinham nascido e reencontrei a Sopa dos Pobres.
À Sopa dos Pobres, iam os que os latifundiários não chamavam na manhã dos dias, nos dias em que homens e mulheres de tez tisnada, esperavam ansiosamente por serem os escolhidos e assim poderem ter dinheiro para comprar pão no final do dia.
No final da viagem que fiz ao Ribatejo pobre e rural do início dos anos 60, acordada dela por uma qualquer palavra dita em tom mais elevado, ainda tive tempo para concluir que ter sido levada há dois ou três anos à Praça de Jorna e hoje à Sopa dos Pobres, ao lugar onde se ia quando não havia trabalho à hora, às horas ou ao dia no campo dos donos das terras, pareceu-me a sequência lógica da evolução do mundo e do País no tempo que decorreu desde a tal reunião. Não somos já só descartáveis, somos cada vez mais descartáveis sem trabalho e sem pão. Recorremos às Sopas dos Pobres de hoje, envergonhados, grande parte das vezes, mas sem terras para cultivar à vista, a grande maioria delas.
Daquelas praças, iam-me chegando, menina ainda, relatos de revolta. Contra a injustiça e contra fome. Relatos de homens e mulheres que não se resignavam em ter que parar na casa de esquina em frente à casa dos meus avós, onde, após a guerra, como ainda tantas vezes o meu pai conta, se dividia uma sardinha por dois.
Antes de começar a intervenção de ontem, mesmo a voltar da viagem, ficou-me mais uma vez claro que nas Praças de Jorna de 2010, surgirá certamente a revolta. Que nenhum de nós se resignará com a Sopa do Pobres.
O homem nasceu para ser livre. E para ser digno. E se não desistiu durante séculos de lutar pela liberdade e pela dignidade é porque lhe está no sangue, nos genes. Pode demorar, mas o homem fará o seu papel. E a resistência e a revolta vencerão a desistência e a apatia. Pode demorar tempo mas o homem que nasceu para ser livre e ser digno fará um mundo sem Praças de Jorna nem Sopas dos Pobres.