A nossa casa. A nossa casa tem defeitos, mas é a nossa casa. Até ser a nossa casa, a humidade na cozinha, o barulho das canalizações, a pintura da entrada a cair, até o telhado a vir parar em cima da nossa cabeça, num Inverno mais rigoroso, põe-nos mal-dispostos, preocupa-nos, obriga-nos a gastar tempo e dinheiro...mas não retira o aconchego do nosso sofá, o encanto do bocadinho ao pé da janela, o buraquinho que o nosso corpo cansado, ou cheio de paixão, fez no colchão. E que nos ampara a queda quando voltamos de sonhar.
Podemos conhecer outras casas, encontrar casas sem humidade, sem barulhos nos canos, casas que parecem sempre acabadinhas de pintar...mas não têm o canto da janela nem o buraco dos sonhos no colchão.
E sentimo-nos estranhos. E são casas estranhas. Podemos entrar nelas, mas elas não entram em nós.
Acho que acontece o mesmo com todas as outras nossas coisas. O nosso Partido, a nossa cidade...nisto de lugares a que pertencemos e que nos pertencem, não me parece que entre aquela história da galinha da vizinha ser melhor que a minha...
Depois, um dia, chegamos a casa, a janela está lá, mas puseram uma parede à frente, do outro lado da rua, que nos tapa a vista e nos tira o ar e já não há o cantinho encantado.
Mas ainda temos o sofá e o buraquinho dos sonhos...
Tempos depois, parte-se um pé e temos que mudar de sofá.
Mas ainda há o buraco dos sonhos...
Até que um dia, à socapa, tipo ao meio da manhã, depois de se ter saído para o trabalho, mudam-nos o colchão..às vezes não é à socapa, é às claras mesmo...mas o resultado é o mesmo.
Ficamos sem buraco que nos ampare o corpo e a alma, quando somos forçados a voltar...e deixa de ser a nossa casa.
Até podemos lá continuar mais uns tempos, até pode demorar a sair de nós, mas sai. Sai, a grande maioria das vezes, antes de nós sairmos definitivamente dela.
Há uns anos, o Zé Mário Branco, quando saiu do Bloco de Esquerda, dizia que nunca saiu dos Partidos, os Partidos é que foram saindo dele.
Penso que percebo exactamente o que ele queria dizer. Porque acho que os Partidos são parecidos com as casas. E com as cidades. Se bem que não me lembre agora de ninguém que tenha falado sobre as cidades.
Podemos conhecer outras casas, encontrar casas sem humidade, sem barulhos nos canos, casas que parecem sempre acabadinhas de pintar...mas não têm o canto da janela nem o buraco dos sonhos no colchão.
E sentimo-nos estranhos. E são casas estranhas. Podemos entrar nelas, mas elas não entram em nós.
Acho que acontece o mesmo com todas as outras nossas coisas. O nosso Partido, a nossa cidade...nisto de lugares a que pertencemos e que nos pertencem, não me parece que entre aquela história da galinha da vizinha ser melhor que a minha...
Depois, um dia, chegamos a casa, a janela está lá, mas puseram uma parede à frente, do outro lado da rua, que nos tapa a vista e nos tira o ar e já não há o cantinho encantado.
Mas ainda temos o sofá e o buraquinho dos sonhos...
Tempos depois, parte-se um pé e temos que mudar de sofá.
Mas ainda há o buraco dos sonhos...
Até que um dia, à socapa, tipo ao meio da manhã, depois de se ter saído para o trabalho, mudam-nos o colchão..às vezes não é à socapa, é às claras mesmo...mas o resultado é o mesmo.
Ficamos sem buraco que nos ampare o corpo e a alma, quando somos forçados a voltar...e deixa de ser a nossa casa.
Até podemos lá continuar mais uns tempos, até pode demorar a sair de nós, mas sai. Sai, a grande maioria das vezes, antes de nós sairmos definitivamente dela.
Há uns anos, o Zé Mário Branco, quando saiu do Bloco de Esquerda, dizia que nunca saiu dos Partidos, os Partidos é que foram saindo dele.
Penso que percebo exactamente o que ele queria dizer. Porque acho que os Partidos são parecidos com as casas. E com as cidades. Se bem que não me lembre agora de ninguém que tenha falado sobre as cidades.