quinta-feira, 9 de junho de 2011

Notas sobre a derrota eleitoral do Bloco e o Bloco saído da derrota eleitoral

A Comissão Política do Bloco de Esquerda reuniu esta tarde para analisar os resultados eleitorais.
Da reunião, tal como das declarações e artigos desde Domingo publicados por dirigentes do BE, ressaltam algumas conclusões, quase unânimes:

1 – Grande parte da responsabilidade da votação no Bloco, deve-se a factores externos ao BE – voto útil (sem que se explique em nenhum lugar porque só funcionou para o Bloco); medo e instabilidade motivados pela crise.

2 – Na parte que é da responsabilidade do Bloco, fala-se na dificuldade em passar a mensagem sobre as opções feitas, não se questionando, nunca, essas opções. Autocrítica continua a ser palavra proibida para os dirigentes do Bloco.

3 – A dificuldade de transmissão dessa mensagem começa na Moção de censura e acentua-se na recusa em ir à reunião com a Troika.

4 – O voto sobre a intervenção do FMI na Grécia, nunca existiu ou foi por todos os eleitores e aderentes compreendido ou esquecido.

O apoio ao candidato do Governo nas Presidenciais, iden, iden (Fernando Rosas no seu artigo “Sete notas pessoais sobre os resultados do BE”, fala de passagem sobre as presidenciais, encarregando-se de as colocar em pé de igualdade com a Moção de Censura). A fotografia de Alegre abraçado a Sócrates, no dia a seguir à de Alegre com deputados e dirigentes do BE e do PS, não foi vista por nenhum eleitor, ou se o foi, foi inteiramente compreendida (é sintomático, como todos falam que esta foi a 1ª derrota eleitoral do BE, esquecendo que a votação em Alegre, depois de todo o empenho que o Bloco teve na sua campanha e na sua eleição, foi, efectivamente a 1ª derrota do Bloco, não só em termos políticos como eleitorais, já que todos os dados indicam que a esmagadora maioria dos eleitores do BE em 2009 não votaram no candidato apoiado pelo Bloco em Janeiro de 2011, mais dos que os que no Domingo passado não o fizeram).

5 – Fala-se da transferência de votos do Bloco para a Direita (que penso que não foi, de nenhuma forma significativa), sem em nenhum momento se questionar as razões da transferência de votos para a CDU ou, sobretudo, para a abstenção – aliás a abstenção à esquerda e da Esquerda (porque foi dessa que efectivamente se tratou) continua sem merecer qualquer análise séria de qualquer Partido de Esquerda.

6 – Desde Domingo que se promete, e todas as intervenções e todos os artigos corroboram a promessa, discussão interna para encontrar as razões da derrota e discutir a actuação do Partido depois dela.

Esta tarde, depois da reunião da Comissão Política, é prometida discussão em todos os órgãos democraticamente eleitos do Bloco, mas Fernando Rosas assegura, que não vai haver Convenção Extraordinária, possivelmente esquecendo-se (como se esqueceram há um ano!) que a Comissão Política não tem estatutariamente poderes para negar ou para propor a convocação de uma Convenção Extraordinária. Isto é, a CP do Bloco vai ouvir os aderentes, depois ouvirá a MN, mas decide antes de ouvir uns e outros (os únicos que têm poderes para a convocar – segundo os Estatutos do BE uma Convenção Extraordinária pode ser convocada por 10% dos aderentes ou pela Mesa Nacional) que nem uns nem outra decidirão pela sua convocação.

7 – Na minha experiência pessoal, quando saio para o mundo lá de fora, o da minha empresa e da minha rua (os Partidos de Esquerda, todos sem excepção, continuam teimosa e arrogantemente a não querer aceitar a importância do mundo de cada um na compreensão do mundo de todos), e tento entender porque muitos que o fizeram em 2009 não votaram hoje no BE, as razões apontadas são muito diferentes das que os dirigentes do BE apontam: fala-se em presidenciais, fala-se na Moção de censura, quase ninguém toca na reunião da Troika, manifesta-se incompreensão por votações ao lado da Direita (nomeadamente na discussão do PEC IV que daria origem à queda do Governo), mas, sobretudo, há dois denominadores comuns: um mais politizado, que abrange toda a Esquerda e justifica o voto útil (de Domingo, que não penso que tenha sido significativo, mas, sobretudo, futuro, que com a saída de Sócrates e o PS na oposição, me parece bem mais previsível e significativo!): “ Não serve de nada votar no Bloco nem no PCP pois eles nunca se entenderão nem nunca formarão Governo” e uma mais desencantada, menos politizada: “O BE tornou-se igual aos outros!”.

Penso que esta última opinião, maioritária entre os que hoje não votaram Bloco, optando pela abstenção, deveria ser, também por outra razão, mais “interna”, motivo de grande atenção por parte dos dirigentes do Bloco. Conhecendo razoavelmente o Bloco por dentro, atrevo-me a afirmar sem muito receio de me enganar, que é esta sensação de o BE se ter aproximado perigosamente de “ser igual aos outros”, em termos de funcionamento interno e de postura política, mais e antes da discordância em relação a opções estratégicas ou políticas concretas, que levou e leva ao afastamento de muitos aderentes.

Mas aqui entraríamos numa discussão que ninguém ainda sequer mencionou: um Partido de eleitores e de funcionários (e com os resultados práticos desta maquiavélica relação, o BE terá que lidar muito brevemente), sem militantes e sem trabalho sindical, que não entra nas empresas nem nas escolas, que não soube ou não quis criar raízes nos movimentos sociais ( e que quando as criou, cometeu erros semelhantes aos que, ao longo de anos, outros cometeram no movimento dos trabalhadores, sendo hoje olhado com desconfiança pelos seus activistas), que centralizou todo o seu trabalho no Parlamento e no Grupo parlamentar, como sobreviverá a uma derrota eleitoral desta envergadura?