domingo, 11 de março de 2012

11 de Março de 1975

Há datas que continuam a ser barricadas. Mesmo que a história se tenha, depois, encarregue, de as "moldar" ou não, são barricadas. Definem-se e definir-se-ão sempre assim: quem esteve de um lado e quem esteve do outro (há os que nunca estão em nenhum deles, ou estão nos dois, conforme as conveniências, ou encolham os ombos, mas desses não rezam as estórias, quanto mais a história).
O 11 de Março é uma dessas datas barricada. Eu tinha 15 anos e estive do mesmo lado em que estou hoje.
Não uso a coerência como troféu, mas, acreditem, uso os princípios com um enorme orgulho.
Obviamente, também sinto as derrotas com uma enorme dôr. As inconsequências com um enorme sentimento de tempo e oportunidades perdidos. Os "desvios" como um enorme alerta e um enorme fracasso. Mas disso não fala a história do dia 11 de Março de 1975. Começa a 12...

Naquele dia, o povo fardado cumpriu a vontade do povo e derrotou a Direita fascista. O povo saiu à rua e derrotou a Direita fascista.
Na barricada desse dia, eu estava do lado dos que viram o 11 de Março e o viveram, de saia às pregas, camisa de flanela aos quadrados, boina na cabeça e cravo nos cabelos, como a continuação lógica, necessária e revolucionária do dia, de quase um ano antes, em que pegámos a história pelos cornos e a tentámos moldar nas nossas mãos, Calejdas ou de quase meninos ainda.

Falhámos? Sim. Mas ninguém nos tira os momentos em que a esperança se fez dia, nos microfones dum jornalista, nos canos das G3 de uns soldados, nas barricadas feitas pelo povo na rua.
A mim, pessolamente, também ninguém me tira a certeza que nun dia barricada qualquer, urgente poque senão inútil, voltarei a encontrar muitos dos que estiveram lá comigo. Ou os nossos filhos...que isto de dias barricadas transmite-se, que ninguém o ouse negar, pelos genes,
Assim sendo, e se me permitem, este dia dou-o ao meu filho. Pedindo-lhe que o continue quando as forças me faltarem.
Ao almoço vou assegurar-lhe que ele lá esteve...