sábado, 10 de julho de 2010
Este é o tempo
"Este é o tempo
Este é o tempo
Da selva mais obscura
Até o ar azul se tornou grades
E a luz do sol se tornou impura
Esta é a noite
Densa de chacais
Pesada de amargura
Este é o tempo em que os homens renunciam."
Quando Sophia escreveu estas estrofes, falava do fascismo. Falava das grades das prisões e das grades da consciência, falava das noites povoadas de passos e de pesadelos. Falava dos que se alimentavam das vidas dos outros. Falava da amargura do silêncio e falava de renuncias. De homens que renunciam. E falava da selva dos tempos. Dos tempos de selva.
Hoje não há fascismo. Na noite já não se ouvem passos da PIDE, só os passos de quem volta a casa sem sonhos e sem tempo. O ar azul deixou de ter grades que encarceram prisioneiros e passou a ter grades que encarceram meninos e meninas sem amanhã, homens e mulheres sem hoje.
Há mais diferenças?
((O homem da foto, devia ter sonhos de menino quando Sophia escreveu este poema...).