sexta-feira, 11 de março de 2011

Amanhã começa outro dia


Não é uma questão de geração. Mas é uma imposição dela. O futuro pertence, pertence por força da lei da vida, aos nossos filhos e aos filhos deles.

Não cumprimos as nossas promessas. Nem honrámos os nossos compromissos. Não lhes demos um mundo novo. Nem a possibilidade de viverem melhor que nós vivemos. Pior, hoje, Março de 2011, muitos de nós, cada vez mais de nós, não tem sequer hipótese de lhes dar o que perante eles, já nem entra aqui o Mundo, entram, apenas eles, a quem embalámos nas cólicas dos dentes a nascer, ou nos choros das primeiras quedas, nos comprometemos a dar.

A responsabilidade não é de todos igual? E então? Serve de quê a afirmação disso? Talves, apenas, um Xanax a mais que fica na caixa...numa noite sem exemplo.

A responsabilidade é nossa. Tinhamos 14, tinhamos 18, tinhamos 20 e tal anos, em Abril. Tinhamos a força e os sonhos que só se têm quando o mundo nos cabe numa mão, e deixámos que nos fugisse. Tinhamos a hipótese de criar um País em que depois de os embalar nas cólicas, os deixaásemos voar na vida e ao deixarmos que nos cortassem as asas, cortámos-lhes as asas deles.

Quando hoje o meu pai me conta da sardinha dividida em três, eu olho para ele e agradeço-lhe que me tenha permitido ter, ele e a sua luta, uma sardinha inteirinha só para mim. Quando hoje o meu filho me olha, sei que no País que lhe fiz, muito possivelmente, não haverá sardinha.

Durante anos reclamámos contra a falta de sonhos dos mais novos. Talvez seja, dia 12 de Março, quando os encontramos na rua, a altura de lhes pedir descuulpa por termos deixado matar os nossos e com isso, nem sardinha nem sonho terem ficado para lhes legar. Talvez devamos, humildemente, pensar que os sonhos, como a cor dos olhos ou a forma das mãos, se legam. Ou não. E nós não legámos.

Isto teria sido escrito há um mês. Hoje, dia 11 de Março, há como que uma esperança qualquer que nos toca. Como se, depois de os embalarmos um pouquinho, a cólica parecesse amainar e nos agradecessem o colo com um sorriso. O sorriso que só os filhos de cada um de nós tem

Amanhã, dia 12 de Março, teremos oportunidade de não lhes falar só de sonhos. De lhes falramos das lutas que perdemos, de algumas que ganhámos, mas, sobretudo, de lhes dizermos: "vamos lá aprender todos a voar de novo. Ensina-me o que a tua força e as tuas assas fortes te permitem ensinar-me. Deixa-me que te ensine como se deixares que a asa se volte sempre e apenas a favor do vento, deixarás de saber voar".

Amanhã não é uma questão de geração deles. É a geração deles a lutar pelo futuro. A minha a tentar sobreviver ao presente. A de todos a tentar mudar o passado.

Se amanhã, na Avenida ou na Praça da Batalha, ou nos outros lugares todos onde sairmos à rua, conseguirmos gritar bem alto que a partir de agora, até vencer os carrascos dos nossos sonhos e os vampiros das nossas vidas, conseguirmos, em conjunto, decretar por imperativo político, moral e de sobrevivência, que todos os dias são dias 12 de Março de 2011, temos sardinha. E País.