sexta-feira, 9 de abril de 2010

Para não fugir a Abril...voltando aos sons de todos e a algumas palavras minhas

Não sei se se passa o mesmo com todos os que viveram aqueles dias. Nem sei se se passa sempre o mesmo comigo.
Há momentos em que já não consigo recordar-me nas imagens e em que apenas me guardo nos sons. Há momentos em que me recordo neles, nos que, teimosamente, perduram, mas já não estou segura que ainda me consiga sentir neles. Em que parece que já só me consigo olhar neles. Como se de fora.

Os desencantos. A vida. Os caminhos que, entretanto, fizemos dos nossos sonhos, a Revolução que não fizemos e aquilo a que outros chamaram Revoluções e o que delas fizeram, talvez a idade, ou, talvez apenas o tempo, fazem com que hoje já só haja alguns sons que me voltam a colocar quase lá.

Este é um desses sons...

As palavras já não fazem o mesmo sentido? Possivelmente não. Mas isso interessa? No dia em que o cantei, talvez pela primeira vez após Abril, nas ruas de Santarém, ali mesmo juntinho à Escola Prática de Cavalaria, não sei em que dia, já pouco sei de com quem, penso que ainda em Abril, fugida das aulas do Sta. Margarida, a mentir aos meus avós, arranjando desculpas para chegar a casa tarde, e tarde era, então, o fim da tarde, que nem mesmo Abril, ainda bébé, evitava que os catorze anos ainda contassem para as horas de chegar a casa, as palavras que eu cantava diziam que queria fazer um País livre. E um Mundo melhor...

O que fizeram, o que eu própria com elas ou delas fiz, neste momento, interessa pouco. Sem elas não seria o que sou hoje. Nem o Mundo seria o que é hoje. Para o bem e para o mal. Por isso, não sei se se passa o mesmo com todos os que viveram aqueles dias. Ou se se passa o mesmo comigo todos os dias. Mas apesar dos erros, das dúvidas, das traições e dos desencantos, El Pueblo Unido volta a colocar-me em mim quando em mim tudo era possível. Até mudar o Mundo...
E sinto orgulho nisso. E uma imensa alegria.

Abril - 2008